Sunday, October 14, 2012

Saturday, September 01, 2012

O Mundo Pós- Morte


Com o início da segunda metade do século XX, marcada pelo término da segunda grande guerra e a iminência do fim do mundo ( assombrada pela guerra fria), duas correntes intelectuais opostas começaram a se insurgir de maneira aliada: o pensamento tirânico de Nietzsche, e a salvação do povo pelas ideias de Marx. Aliadas porque tiveram um papel importante no que deu início no que conhecemos hoje como pós-modernidade,  que tem como principal característica a crise dos valores.
O que entendo por valores?  Quando o homem da pré-história deixou de ser nômade
( como os animais que migram em busca de alimentos) no momento em que desenvolveu a agricultura e a domesticação dos animais,  se fixou e a partir de então começou a criar aquilo que conhecemos hoje como sociedade.  Como o homem ainda não tinha regras, leis,  em certo momento  da evolução,  foi preciso a criação de valores, uma fenômeno do homo sapiens para a adaptação da espécie.
Essa evolução dos valores se desenvolveu ao longo dos séculos para a sobrevivência pacífica do humano: família, educação, religião, arte,  cultura, honestidade, verdade, ética, amor.
No século XIX, chega ao ponto máximo e ao declínio, o ponto máximo pode ser caracterizado pelo auge do amor romântico, pelas utopias, pelos círculos artísticos francês da Belle Époque que direcionou toda cultura ocidental e marcado o início da bancarrota pela expansão das ideias do alemão Nietzsche, que colocou os valores  no banco dos réus, e o julgamento  permeou até primeira metade do século XX, enquanto o homem destruía o homem; os valores, os alicerces da sociedade se tornaram totalmente fragilizados e portanto os pensadores pós Nietzsche se vestiram de advogados do diabo e decretaram a morte de tudo.
Enquanto os tiranos e os capitalistas disputavam o poder do mundo,  os intelectuais, bem intencionados,  apoiados em Marx criavam uma resistência e viam no comunismo a salvação. E então os valores eram dissolvidos: Deus, família, amor: ilusões psicológicas; arte, beleza, cultura: prazeres burgueses ( avesso as idéias marxistas malversada). E com a derrota do comunismo nos anos 80 do século XX, é enterrada a utopia, as revoluções.
Hoje vemos o que resultou isso tudo, não mais como crise dos valores, mas como a separação definitiva do homem com o humano, ou,  do selvagem com os valores.
Que entendamos: os valores não são imutáveis e universais, tal como sentenciou Sócrates ao dividir o pensamento anterior a ele como pré-socrático. De fato os valores foram criados pelo homem e foi à base da construção da espécie, entretanto esta construção se demoliu: a família já não é mais família, a educação se separou da cultura, a arte é a negação da arte, o amor romântico é comprado e descartado, o amor familiar é raso e sentido apenas com a perda (basta ver a família dos nossos avós e a do nosso tempo), Deus deu o lugar a homens, em suma, todos os valores estão mortos, mas poucos veem, ou aceitam.
Quando somos acometidos por uma noticia da morte de alguém que amamos, o primeiro sentimento é a negação, depois caímos na realidade e somos obrigados a aceitar, por mais difícil que seja, assim é o que aconteceu com os valores: Deus está morto, se estivesse vivo as pessoas seguiam seus mandamentos, mas não é o que acontece, muitos negarão até a morte que sabem da morte de Deus. Família deu lugar a indivíduos que moram no mesmo teto, se moram. A escola não tem mais a função de educar, mas de dar um certificado em troca de informações.
Com a morte da educação, morreu a cultura que está associada à arte e a literatura e que reflete no pensamento criativo e crítico. Mas com a ausência desses valores, sobram apenas cérebros vazios aptos a serem preenchidos com os  anti-valores, da arte visual, musical, teatral, religiosa e  pela vontade do único valor que  move as pessoas, o valor monetário.  

Se alguém leu até aqui, creio que entendeu o que eu quis passar e deve ter pensado comigo que realmente o mundo está escoando bueiro abaixo e que não há mais salvação, mas eu não penso assim, não sou pessimista. Mas como se eu mesmo acredito que os valores humanos estão mortos?
Não me iludo com falsos valores impostos  e nem  que a vida é o nada, volto ao meu estado selvagem e refaço a construção dos valores que engrandecem minha  alma, mantenho a construção de pé, meu abrigo, deixo entrar a cultura, a utopia,  a educação,  a beleza, a arte, a ética, o sagrado, o deus que eu escolher, o amor. Abro a porta aos que querem entrar, não busco ninguém  porque  merecedor é apenas aquele que busca. E quanto mais matarem os valores,  mais eu  sentencio que a morte dos valores  é que está morta.  

Marcos Ribeiro Ecce Ars
Inverno de 2012   

Thursday, August 11, 2011

O conteúdo deste blog e outros textos estão agora exclusivamente no link da imagem abaixo, em breve serão postados novos textos:


Sunday, February 20, 2011

"Lógica da Arte Contemporânea: O governo escolhe o ministro, o ministro escolhe o secretário, o secretário escolhe o curador, o curador escolhe os artistas, os artistas escolhem as galerias, as galerias escolhem os clientes, os clientes lavam o dinheiro, o dinheiro vira imposto, o imposto volta para o governo."

Marcos Ribeiro Ecce Ars

Wednesday, July 14, 2010

UM DEVANEIO ARTÍSTICO

No romance Dorian Gray, Oscar Wilde diz, “Toda a arte é completamente inútil”. Ora, isso é mais que sabido, porém não compreendido. Ou seja, o povo não se interessa por arte porque não é pragmática, não tem um fim prático. Se a arte é política ou moral, não é arte, é panfletagem. Na sociedade burguesa-capitalista que ora é burguesa- socialista, o que interessa é o que traz o retorno monetário, e a arte, tanto plástica, literária, musical ou teatral, para o espírito comum, ou ela serve para entretenimento, ou erudição, ou simplesmente não existe. Se é assim, como sobrevive, ou haveria de ter sobrevivido os artistas do passado? Exclusivamente no sentido observado por Kant: “ O gênio é uma mensagem enviada a outro gênio”. Se não fosse assim, o que seria do próprio Kant? Como ele teria atravessado os séculos? Não somente pelo gênio emissor, mas também pelo gênio receptor, este que compreende que a arte não é a forma, propriamente dita, mas a sua essência, sua essência transcendental. Transcendental porque além de compreendê-la, ela é sentida. Sequestradora de alma. Então, sabendo disso, o que o sistema cultural faz por meio da mídia ou das igrejas pós- modernas? O mesmo uso que os detentores mau intencionados fazem com a filosofia, usam a arte como anestésico, ou seja, é trocado seu sentido metafísico pelo gosto popular, traduzindo, eu gosto do que está na moda, porque pragmaticamente eu me incluo numa sociedade, seja ela gospel, sertaneja, da arte contemporânea ou outros rótulos mais, sendo assim, cabe ao gênio criador lançar a mensagem não para o aqui e agora, mas para o destino. Seja ele o amanhã ou daqui a mil anos. E se alguém chamar isso de frustração, responda, frustração será você velho ter passado pela vida e não tê-la sentido. E repetindo as palavras de Whitman, passei pela vida e pude contribuir com um verso.

Marcos Ribeiro Ecce Ars
Inverno de 2010

Thursday, November 15, 2007

Diálogo entre um ateu e um crente

- Você não gosta de arte contemporânea?
- Não, sou ateu.
-O que! Você não crê em Duchamp, Hélio Oiticica,Lygia Clark, Pape, Marepe e Leda Catunda?
-Não, não consigo ver arte no que eles dizem ser arte, nada do que eles fizeram me emociona, me comove, me faz pensar na vida; Sempre fui indiferente a tudo isso.
- Mas seus pais( seus professores) não te ensinaram que a arte contemporânea é a arte oficial, e aceitando-a você se torna cult, intelectual?
- Se ser cult é contemplar, idolatrar perucas, fuscas pendurados, bidês, guarda-chuvas, pneus, latinha de merda, então prefiro ser um alienado.
- Mas você não gosta por que não entende , você estudou arte?
- Sim, me formei em teologia da anti-arte, mas fugi e voltei aos vivos: Hopper, Francis Bacon, Magritte,Dali, Da Vinci, Picasso, Cézanne, Klee, Rembrandt, ou seja, só acredito no que vejo, só acredito nos vivos.
-Mas você não teme ser queimado na inquisição, ou ser considerado um louco, um Dom Quixote?
- Não, quem sabe não consigo fazer uma reforma na igreja, assim como fez Lutero, pois a contra- reforma já possui muitos seguidores.

-Tudo bem então, aproveito para lhe contar um segredo: Já faz algum tempo que percebi que os pastores e os bispos que mandam na arte só pensam no dinheiro dos fieis, mas defender a arte contemporânea da um certo ar de intelectual, e isso da status.
Marcos Ribeiro

Monday, June 26, 2006


"Atualmente não existe -em arte-nada mais descontemporaneo do que a arte contemporânea” ·

(Oriebir Socram)

Wednesday, June 14, 2006

“A arte contemporânea é como um rio poluído, que há algum tempo foi cristalino. O próprio homem o poluiu com lixos. E hoje ninguém mais pode nadar em suas águas nem contemplar a sua beleza”.
Marcos Ribeiro

Saturday, May 06, 2006

10 mandamentos dos apertadores de parafuso



















1° Para que o livro se temos a vitrola?
2º Para que o livro se temos o computador?
3º Para que o teatro se temos o cinema?
4ºPara que o rádio se temos a televisão?
5°Para que a pintura se temos a fotografia?
6° Para que o homem se temos a máquina?
7º Para que o nome se somos número?
8º Para que cultura se somos boçais?
9ºPara que Caravaggio se temos Warhol?
10º Para que a arte se temos Duchamp?

Marcos Ribeiro
06 de maio de 2006

Friday, December 16, 2005

A cegueira na arte ( Primeira postagem)

Estou escrevendo para expressar a opinião que tenho a respeito da arte atual, conceitual; não acredito no que vejo sendo uma arte expressiva, vinda de artistas autênticos, mas sim um sistema que elege quem é conveniente para a corte.
A arte sendo um patrimônio da humanidade deveria ser democrática, e não centralizada somente em uma denominação que se intitula "arte contemporânea", que detém o poder. Quem não se insere na linha deixada por Duchamp, não se enquadra, portanto fica de fora de qualquer aparelho cultural se tornando  um artista marginal.
A vanguarda no milênio passado contestou o sistema, e desde então o modelo segue o mesmo "o novo ficou velho", agora com embasamento em grandes nomes intelectuais irei manifestar contra aquilo que acho que está ultrapassado e necessita renovar-se.
Abaixo um texto do grande poeta, escritor, ensaísta e cronista que tem essa mesma linha de raciocínio:

Afonso Romano de Santa'Anna
A CEGUEIRA E O SABER
 
A conhecida lenda de Hans Christian Andersen "A nova roupa do imperador" é uma variante do tópico que estamos estudando. Aqui não se trata da cegueira biológica, senão da incapacidade de ver e do medo de enfrentar o real. O conto de quatro páginas e meia tem tal força simbólica que incorporou-se ao inconsciente coletivo da modernidade. Por isto, essa história é dada como pertencente a vários folclores, como o português, onde o menino que denuncia a nudez do rei é substituído por um estranho-estrangeiro-negro. Seja como for, quando as pessoas dizem "o rei está nu" estão denunciando o embuste em várias situações. Em relação à arte de nosso tempo essa metáfora é a mais usual. Não há estudo sobre a arte atual que não recorra a essa lenda. Por quê? Seria assunto para uma instrutiva pesquisa.
Diz a história de Andersen (1805-1875) que houve um imperador que gostava tanto de roupas novas que passava mais tempo experimentando-as do que cuidando das outras coisas do reino. (Já na abertura aparece este tópico curioso, que podemos batizar de neofilia: a paixão pela coisa nova, pela moda, pelo aspecto superficial, exterior, que fazia com que o imperador se desinteressasse da realidade de seu reino). Isto propiciou que dois espertalhões surgissem em suas terras dizendo que produziam uma roupa que não apenas tinha cores deslumbrantes, mas que possuía uma qualidade única: só pessoas muito especiais poderiam vê-la e que apenas pessoas destituídas de inteligência, que não estavam aptas para ocupar cargos no reino, iam dizer que a roupa era invisível ou que não existia.
Assim, estabeleceu-se um processo de seleção, quase um rito de iniciação pelo qual o imperador poderia testar a inteligência de seus auxiliares, pois só os escolhidos eram capazes de ver a roupa invisível que ninguém via. Os falsos tecelões simulavam tecer panos no tear e iam exigindo dinheiro e fios de ouro em troca. E como o monarca quisesse já testar a inteligência de seus auxiliares, pediu ao velho ministro que fosse ver como andavam as coisas. Lá chegando, o principal auxiliar do imperador ficou perplexo, porque os teares estavam vazios. "Não consigo ver nada!". Mas, temeroso de expressar seu sentimento, começou a ouvir a descrição que os falsos costureiros faziam do tecido maravilhoso. E ele se dizia: "Será que sou tão estúpido? Não vejo nada! Vai ver que sou inapto para o cargo que ocupo". E como temesse perder o cargo e os tecelões do nada cobrassem dele a visão que eles tinham, acabou declarando: "É maravilhoso! Que padrões! Que cores! Vou dizer ao imperador que fiquei encantado". Além da trapaça financeira, observe-se que a palavra ocupa o lugar da coisa, o conceito no lugar da obra. Não só o imperador acreditou, desde o princípio, na palavra dos arrivistas, como também o ministro, por medo e insegurança, abriu mão da sua palavra (ou visão) em benefício da palavra (ou visão) dos ilusionistas. E a cena se repete quando o imperador, para testar outro conselheiro, pede que ele faça a visita ao ateliê do nada. A reação foi a mesma. Ele não via nada. Pensou em dizer que não estava vendo nada, mas receoso de passar por estúpido e perder o emprego, partiu para os elogios a inventar verbalmente o inexistente tecido. E o mesmo vai ocorrer com o imperador quando decide ir ver a tal roupa fabulosa. Ao defrontar-se com coisa nenhuma, pensou igual ao velho ministro e ao conselheiro - "Estão me fazendo de idiota!" - mas para não passar publicamente por imbecil, já que dois de seus principais auxiliares viam no vazio coisas fascinantes, passou a exclamar "lindo, maravilhoso, excelente". Assim fechou-se o circuito de invenção verbal da coisa inexistente. Ao qual se incorporou o resto da corte quando auxiliares tiveram que fingir carregar o manto invisível no dia de sua exibição no palácio. A ousadia dos falsários leva o imperador admirar-se diante do espelho. Então, consuma-se a alucinação: "o imperador diante do espelho admirava a roupa que não via". Assim, toda a corte passou a se curvar diante do inexistente com a anuência do imperador e seus auxiliares. "Nenhum deles queria admitir que não estava vendo nada, pois se alguém o fizesse estaria admitindo que era estúpido ou incompetente. Nunca uma roupa do imperador fez tanto sucesso".
E como termina a história? No folclore português, ao invés de auxiliares competentes da versão de Andersen, só os "filhos legítimos" poderiam ver a roupa invisível do rei. Seria, como em outros mitos, a senha da legitimidade para sucessão no trono. Desta feita quem denuncia o embuste é um estranho-estrangeiro-negro. Na lenda de Andersen é uma criança - essa espécie de olhar estranho e virgem - que, descompromissada, grita em meio à multidão: "Ele está sem roupa!". O povo começa a abrir os olhos e concordar com a visão do garoto. Enquanto a multidão gritava, o imperador acuado pensava: "Tenho que levar isto até o fim do desfile. E continuou a andar orgulhoso e, com ele, dois cavaleiros e o camareiro real seguiram e entraram numa carruagem que também não existia". É um belo final irônico, em aberto.
Noutras versões menos instigantes, que até circulam na internet, o rei ficou envergonhado de ter se deixado levar pela vaidade, arrependeu-se e desculpou-se, enquanto os falsos tecelões foram enganar outros em outros reinos, até serem presos e condenados.
Essa é uma lenda sobre um pacto de não-ver, onde toda uma comunidade brinca de avestruz enquanto alguém lucra com a cegueira estimulada. E porque todos têm medo da opinião (ou visão) do outro, todos deixam de ver (e ter opinião). É um caso de cegueira social. Isto ocorre, visivelmente, nas agremiações políticas e religiosas: a produção de um discurso que ordena o que deve ser visto ou não. No caso de grande parte da arte contemporânea isto é um caso de voluntária cegueira artística, próximo do que La Boetie chamava "servidão voluntária". Pode-se perguntar: mas afinal, já que tanta gente é capaz de descrever as sutilezas da inexistente veste real, o rei está ou não está nu? Está e não está. Como diria Nathalie Heinich, "o rei está vestido pelo olho do outro". A linguagem pode ocultar ou desvelar. E esse é um jogo difícil e perigoso de se jogar